“No meu quintal, não!”. Contributos para uma análise dos movimentos ambientais de raiz popular em Portugal (1974-1994)

Este trabalho tem por objectivo principal fornecer uma visão genérica sobre a acção ambientalista de raiz popular em Portugal entre os anos de 1974 e 1994, tendo em conta os principais contornos de movimentos de base popular, bem como a sua articulação com as características mais globais da sociedade portuguesa relativamente às questões ambientais e a sua relação com o contexto social, político e económico do país ao longo das duas décadas consideradas. No decorrer destas décadas, os movimentos ambientais de raiz popular, ainda que possam ser entendidos como resultado directo das alterações verificadas no nosso país, caracterizam-se essencialmente como Nimby – “no meu quintal, não!” –, como é particularmente evidenciado pelo âmbito geográfico e temporal restrito das acções de protesto levadas a cabo, pela ênfase na defesa de interesses privados e/ou locais e ainda pela não continuidade das acções ou pela ausência do alargamento a causas ambientais de natureza mais abrangente.The main purpose of this text is to provide an overview of grassroots environmental action in Portugal between 1974 and 1994, taking into account the principal contours of grassroots movements, as well as their articulation with the more global features of Portuguese society in what concerns environmental questions and their relation with the social, political, and economic context of the country in these two decades. Although these movements can be understood as a direct result of the changes that occurred in the country in this period, they are essentially characterized by a Nimby (“Not In My Backyard”) reaction, as is made particularly clear by the limited geographical and temporal ambit of the protests that were made, by the emphasis on the defense of private and/or local interests, and also by the lack of continuity of the actions or the failure to extend them to broader environmental issues.Cette recherche a pour but principal de fournir une vision générique sur l’action de la défense de l’environnement, d’origine populaire au Portugal entre 1974 et 1994. Aussi, elle examine les principaux profiles des mouvements populaires, ainsi que leur articulation avec les caractéristiques plus globales de la société portugaise relativement aux questions de l’environnement et leur relation avec le contexte social, politique et économique du pays au long des deux décennies envisagées. En effet, pendant ces vingt années, les mouvements de la défense de l’environnement d’origine populaire, même s’ils puissent être considérés comme le résultat direct des changements survenus au Portugal, se caractérisent essentiellement par le principe de «Pas dans mon jardin!» On peut le constater surtout à travers le cadre géographique et temporel restreint des actions de protestation entreprises, mais aussi à travers l’emphase dans la défense des intérêts privés et/ou locaux et dans la continuité des actions ou bien de l’absence de l’élargissement de ces actions vers la défense de l’environnement comme une cause dans une perspective beaucoup plus englobante